sábado, 28 de maio de 2011

O perfume da memória

Que cheiro te traz boas recordações? Todos nós temos um aroma gravado em nossa memória

Por Ilana Ramos

Sabe aquele cheirinho de bolo de canela que te lembra os finais de semana com a família reunida ou aquele perfume que te leva de volta à infância? Pois então, a lembrança a qual esse cheiro remete está associada a um tipo de memória mais comum do que valorizada, conhecida como memória olfativa. Como a visual ou auditiva, a memória dos cheiros conecta lembranças aos aromas sentidos em determinadas situações ou lugares. Todos nós temos um aroma gravado em nossa memória. Qual é o seu?

O olfato está presente nas nossas vidas desde que nascemos, quando é usado para reconhecer do cheiro da mãe. De acordo com o neurologista e chefe do serviço de neurologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), Maurice Vincent, “o sistema nervoso tem várias maneiras de adquirir e armazenar experiências em relação ao mundo exterior. Quando uma criança começa a se desenvolver, obtém do exterior todo tipo de informação sensorial. Preenche o banco de dados ao armazenar experiências e a olfação tem papel importante nesse processo. Existe no ser humano uma capacidade olfativa maior do que se imagina. O olfato pode guiar atividades sem que a pessoa se dê conta”.

Tudo bem, cheiros são importantes, mas será que tanto? Embora subestimada, a capacidade olfativa está ligada a grandes aspectos da nossa vida, seja no reconhecimento de um filho ou até mesmo por uma questão de sobrevivência. De acordo com a psicóloga e aromatóloga Sâmia Maluf, “nós nunca compramos um alimento ou artigo de perfumaria sem sentir seu cheiro antes. Embora não receba atenção suficiente, o olfato é um dos órgãos do sentido mais importantes para a sobrevivência. Através de experiências, descobriu-se que bebês recém-nascidos já reconhecem o cheiro do seio da mãe. Antes de vermos o fogo, sentimos seu cheiro, o que nos leva a buscar logo uma saída do local”.

As memórias dos acontecimentos ou situações vividos pelo ser humano podem se formar em qualquer fase da vida. E o mesmo acontece com a lembrança dos cheiros, que podem não remeter somente à memória de fatos que ocorrem na infância, por exemplo. “As memórias podem ser formadas em qualquer fase, embora a capacidade olfativa diminua com a idade. Uma pessoa com 80 ou 90 anos já não tem o olfato que tinha quando era mais jovem. Além disso, certos fatores ambientais como o fumo e a poluição, podem alterar a percepção dos odores”, explica Maurice.

Cheiros são importantes na sobrevivência, mas também têm grande influência na forma como nos comportamos diante do mundo, podendo inclusive alterar nosso humor e mexer com nossas emoções. “A memória olfativa está muito ligada aos nossos sentimentos. Normalmente, os acontecimentos ficam registrados em nossa memória de acordo com a intensidade em que acontecem e o odor que permeava a situação também marca o que sentimos naquele momento. O cheiro de rosas pode ser muito agradável para certas pessoas, mas se aquele mesmo cheiro está ligado à lembrança de um funeral, por exemplo, ele pode trazer a ela sentimentos ruins, de tristeza”, finaliza Sâmia.

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