quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Que Coisa Mais Triste; Onde Chegamos?


Vida de pai (brasileiro) está, cada vez, mais difícil. Uma
simples conversa, com um filho pequeno, pode gerar certa perplexidade.
O diálogo de João Pedro com seu filho, de 10 anos, pode servir
como prova desse fosso entre as gerações.
- Que você vai ser quando crescer, filho?
- Presidente da República, pai.
- Puxa, filho, que legal. Mas por quê?
- Pra não precisar estudar.
- Não, filho, não é bem assim. Precisa estudar muito.
- Então quero ser vice-presidente.
- Vice, filho? Por que?
- Pra não precisar estudar. O José de Alencar também só foi até
a quinta série primária. Já posso parar.
- Não é assim, filho. Ele trabalhou muito e aprendeu.
- Pai, todo mundo que se dá bem não estudou: o presidente, o
vice, a Xuxa, o Kaká, o Zeca Pagodinho…
- É que eles têm um talento…
- Ah, entendi, estudar é para quem não tem talento?
- Não, filho, pelo amor de Deus. Artista é diferente.
- O presidente e o vice não são artistas.
- Não, quer dizer, o presidente, de certo modo, até é.
- Se eu estudar, vou ganhar mais do que o Kaká?
- Menos.
- Ah, é? Então quero ir já para a escolinha.
- Você já está numa boa escola, filho.
- Quero ir pra escolinha de futebol.
- Não, filho, você precisa estudar muito. A escola abre
caminhos para as pessoas. Pode-se viver dignamente. Filho, você
precisa ter bons valores. Pense numa profissão, numa coisa honesta e
que seja respeitada. Não quer ser médico, dentista ou, sei lá,
engenheiro?
- Não. De jeito nenhum. Tô fora, pai!
- Mas por que, filho?
- Eles nunca vão ao Faustão.
- Isso não tem importância, filho. Que tal bombeiro?
- Vou querer ser astronauta ou jornalista.
- Hummm… Jornalista? Por que mesmo, filho?
- Não precisa mais ter diploma pra ser jornalista.
Mas… Pensando melhor, acho que vou ser corrupto.
- Meu Deus, filho, não diga isso nem de brincadeira!
- Na TV disseram que ninguém se dá mal por causa da corrupção e
que tudo sempre termina em pizza. Adoro pizza. Quando for corrupto,
pedirei só de quatro queijos.
- Ser corrupto é muito feio, meu filho.
- Ué, pai, se é feio assim, por que Brasília está cheia deles e
quase todos conseguem ser reeleitos?
- É complicado de explicar, filho. Mas isso vai mudar.
- Quero ser corrupto e praticar nepotismo.
- Cale a boca, filho, de onde tira essas barbaridades?
- É só olhar a televisão, pai. O Sarney pratica nepotismo e é
presidente do Senado. Ninguém pode mexer com ele.
- Mas você sabe o que é nepotismo, filho?
- Sei. É empregar os parentes da gente.
- E você quer fazer isso?
- Claro. Assim, ia acabar com os vagabundos da família.
Se eu te arrumar um emprego, você deixa?

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O País Que Mais Tem Leis No Mundo

                          Já notaram que neste país existem leis para tudo? Porém, há de se ressaltar, que apesar de serem muitas as leis, só precisam cumprí-las quem é um simples mortal; os demais estão acima delas.

                          Se um simples mortal cidadão contribuinte brasileiro desrespeitar qualquer uma das milhares de leis que nos afogam, conhecerá muito bem o poder do estado. Se este mesmo mortal, por exemplo, desviar dinheiro (não estou defendendo) no seu trabalho, será demitido e preso por estelionato.

                          Porém, se este cidadão for um cidadão especial (entenda-se: vereador, prefeito, deputado, governador, presidente, ministro do STF e outros STs ) ele tem o livre arbítrio para optar entre obedecer ou não, pois ele está acima das leis.

                          Neste mísero país existe (sim existe) uma constituição onde está escrito que todo serão iguais perante as leis. Alguém já disse uma vez que existem alguns mais iguais que outros.

                          Não vou me estender mais, pois eu sou um simples mortal cidadão contribuinte brasileiro e tenho que trabalhar, mas deixo a frase mais famosa de Ruy Barbosa dita em 1914:

        De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Pão e o Circo Nosso de Cada Dia

                            Estamos vivendo um tempo, neste país, em que as pessoas estão ávidas por preencher suas vidas com o vazio das coisas sem valor. Com o respaldo total do sistema (entenda-se por mídia e governo/estado). A mídia vive de coisas sem valores e o estado apoia, visto que com tal situação podem engendrar suas maracutaias enquanto ganhamos nosso pão e circo de cada dia.

                            O estado e a mídia nos dão o circo: BBB, futebol, carnaval, programas de debates sempre tendenciosos, novelas (estas, totalmente vazias). E o estado aplaudindo, pois tudo isto gera impostos para serem roubados e nos tornam cada vez mais burros e submissos ao sistema.

                             Estou completamente descrente deste país. A educação é nula.  A saúde é nula. A segurança é nula. A justiça é nula. Tudo isso é resultado do que foi dito acima, pois um povo burro e submisso não precisa de educação, saúde, segurança e justiça. Precisa apenas de pão e circo.

                             Eu (e muitos outros também) me sinto impotente diante deste panorama, pois sei que a maioria (isto é democracia) vence. E é esta maioria que elege, em troca de pão e circo, a bandidagem que nos governa. O pão, na verdade, são as infindáveis "bolsas" que o estado distribui, como se fosse um Robin Hood moderno, que tira de quem tem alguma coisa e dá para os desprovidos da benção dos céus. Na verdade, o estado compra esta submissão das pessoas, como nossos exploradores faziam com os índios dando espelhos de presente.

                             Se o estado e a mídia nos dessem espelhos hoje, o que veríamos no reflexo seria uma pessoa apática, mansa (entenda-se: sem reação alguma, feito zumbi). Somos, hoje, feito gado caminhando mansamente para o abatedouro.

                             O que conforta a todas estas pessoas que idolatram o sistema atual (mídia/governo/estado) é que ao chegarem em casa, após um dia exaustivo de trabalho, poderão "curtir" mais um "paredão". Assistir um bom jogo de futebol. Ver sua escola de samba na avenida. Pegar em seguida o capítulo daquela novela que ensina como roubar o sócio ou enganar a esposa/marido.

                             Assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade. (Lulu Santos).

                             Que as forças do universo nos protejam.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Morri Em Santa Maria Hoje (Fabrício Carpinejar)

Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça.

A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.

Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.

A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.

As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.

Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.

Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.

Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.

Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.

Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.

Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.

Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?

O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.

A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.

Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.

Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.

Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.

As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.

Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.

As palavras perderam o sentido.

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